8.9.11

SECRETARIO DE EDUCAÇÃO DE ITABUNA GUSTAVO LISBOA CONCEDE ENTREVISTA AO LIGAÇÃO DIRETA

O Noticias Ligação Direta entrevistou com exclusividade o Secretario de Educação de Itabuna, o Profº Gustavo Lisboa. Há 6 anos a frente desta Secretaria, ele vem desenvolvendo um trabalho que o credencia a ser um dos melhores na Bahia, a ponto de ser preterido por diversos grupos políticos a ser candidato a prefeito em 2012, tanto em Itabuna como em Itajuipe. Confira o que pensa Gustavo Lisboa sobre diversos assuntos nesta entrevista.
NL - Como é ser Secretario da Educação numa cidade como Itabuna onde a cobrança por resultados tanto por parte dos políticos quanto da população são constantes ?
GL - A política pública tem mudado bastante nos últimos anos. Fazer parte dela e, principalmente das suas evoluções, não tem sido tarefa fácil nem em Itabuna, nem em nenhum outro município desse País
O que ocorre é que se tem um controle institucional e social, iniciados na década de 90 do século passado, que leva em consideração um passado recente de falcatruas e desmandos na ação política de homens públicos, isso salienta que todos aqueles que entram na esfera pública, em qualquer escalão, têm por desvantagem o ultraje passado (e muitas vezes também presente) político.
Para além disso, as demandas sociais são muito grandes em todas as áreas, sobretudo aquelas que se relacionam à saúde, educação, infraestrutura e assistência social. Por isso, todos aqueles que iniciam na vida pública têm que levar em consideração a seguinte premissa: por mais que se faça, ainda há muito mais por se fazer!
É necessário entender que as críticas, quando construtivas, contribuem com a percepção sobre a evolução do seu próprio trabalho servindo de orientação para planejamento ou readequação de ações, e aquelas que são meramente partidárias continuarão a existir, você contestando ou não. O mais importante, é não perder o foco no trabalho e na equipe, esta precisa ser absolutamente ética, antes mesmo de ser competente.
As políticas públicas também precisam ser mensuradas, é importante criar mecanismos e indicadores que permitam ao público em geral a compreensão daquilo que foi feito, daquilo que se realizou com o erário público. Aqui em Itabuna, criamos o IEP – Índice de Eficiência da Escola Pública. Esse indicador tem balizado as nossas ações a apresentado resultados objetivos referentes a três dimensões: aluno, professor e infraestrutura escolar.
Acho que somente apresentando dados reais e objetivos, o homem público poderá responder às questões hodiernas da sociedade, e olhe que não são poucas.
O Srº praticamente separou a Educação da política, criando um modelo de gestão diferenciada ao longo desse período, houve muita resistência a esse modelo ?
O que fizemos foi separar a educação do partidarismo, esse último absolutamente nocivo quando no seio da escola. Não há nada mais repugnante que um gestor público (que goza, teoricamente de poderes administrativos) entrar de escola em escola com o seu candidato a tira colo, pedindo votos. Isso é um absurdo!
Perseguir profissionais porque são de lados opostos, de partidos opostos é uma velha prática política que não leva a nada. Quando se persegue um profissional que não “comunga” da mesma ideologia partidária, está a se perseguir o próprio fracasso administrativo, a própria incompetência profissional.
 Os profissionais devem merecer destaque pelo que fazem de bom e não por se definirem ideologicamente. Aqueles que não executam suas tarefas precisam fazê-las, e isso não poderá ser ignorado, jamais, pelo Chefe do Executivo ou por seus Secretários, apenas porque são do mesmo lado do Governo.
Em Itabuna, criamos desde 2006 uma campanha, lançada a cada nova eleição, chamada “Nosso partido Educação”. Confeccionamos algumas camisas e distribuímos aos membros da SEC e aos gestores juntamente com uma carta de explica a intenção do projeto. Acreditamos que a escola é lugar da ciência e que a ideologia será formada à partir da ciência. Como podemos querer emancipar um criança ou um adolescente se não lhes damos a oportunidade da escolha, que deve derivar do seu próprio conhecimento enquanto sujeito do processo?
Quando implantamos o projeto, o fizemos em parceira com a UNDIME, mas muitos municípios não abraçaram o projeto e ele se perdeu, mas nós continuamos. Ainda temos muitos desafios para romper essa barreira, mas hoje em Itabuna, os ânimos estão muito melhores que estavam antes dessas iniciativas. Espero, mesmo, que sempre continue melhorando.
NL - O sistema educacional brasileiro o  Srº  considera defasado?
GL - Essa pergunta demandaria uma resposta na forma de tese. Acredito que estamos melhorando, aos poucos, mas estamos.
O sistema brasileiro é definido de acordo com as competências. Os Municípios e os Estados são responsáveis pela educação básica e, no caso desse último, também pelo ensino superior. A união é responsável pelo ensino superior e pelas escolas técnicas.
Melhoramos, em diversos aspectos, a oferta de vagas no País, seja pela descentralização do atendimento público em universidades e faculdades privadas, seja pelo aumento das instituições públicas federais de ensino superior e de escolas técnicas criadas nos últimos anos. Algo é muito importante também, precisamos de muito cursos de tecnólogos para o desenvolvimento e a difusão de ciência e tecnologia, uma vez que as Academias possuem outra concepção de atuação.
NL – E a Educação Básica precisa de melhoras ?
GL - A educação básica, por sua vez, precisa de melhoras tanto em nível de financiamento, quanto em gestão do sistema educacional. A escola precisa ser mais atrativa, mais integrada ao aluno. É preciso caminhar em dois sentidos: a ampliação da educação infantil e a criação de escolas de tempo integral.
Acredito que, embora defasados em relação ao que se pratica em alguns países, estamos dando passos importantes na consolidação de uma educação com qualidade social.
NL - A região vem tendo algumas decepções em relação a investimentos, o PAC do Cacau é uma delas, onde investimentos da ordem de 2 bilhões de reais foram anunciados e ate agora nenhum centavo apareceu,   essa Universidade do Sul da Bahia será de fato uma realidade e não ser mais  um projeto dificil de sair do papel ?
GL - Não tenho dúvidas, a Universidade Federal do Sul da Bahia será uma realidade, mas para isso é preciso que todas as sociedades (não apenas a Itabunense mas todas as circunvizinhas) se unam em torno de um mesmo propósito.
Já estão sendo realizadas diversas reuniões por aqui. Existe um Comitê que discute o assunto. Quanto maior o interesse coletivo, mais rápido obteremos os resultados.
NL - Você acha que a UESC acertou em aceitar o ENEM como forma do estudante entrar para os seus cursos ?
GL - Acho que não trata da forma do ingresso, mas o que faremos para melhorar a educação básica e o próprio Exame Nacional do Ensino Médio. Sou afeito às propostas que privilegiam os rendimentos escolares, por alguns motivos. No tocante à escola pública, poderia citar:
Democratização do acesso de pessoas teoricamente mais pobres (portanto, aqueles que possuem pouco recurso para pagar cursos caros). Isso possibilita, no futuro, uma alteração da pirâmide social nacional, o que por conseguinte poderá trazer outros benefícios para a sociedade, tais como a redução da desigualdade de renda e da violência.
Dar maior acesso à educação básica, por meio de rendimentos escolares, é também “expô-la ao mundo”, ou seja, o trabalho desenvolvido pela educação passará a ser mais visível e, portanto, mais suscetível a críticas, o que exigirá mais envolvimento da sociedade na discussão da educação, levando a quebra de modelos e readequação das propostas curriculares e dos projetos pedagógicos das escolas.
NL  - O Srº  já informou que saindo da Secretaria da Educação tem projetos pessoais, e que não irá abrir mão deles  por conta da possibilidade de ser candidato a um cargo eletivo, isso vindo acontecer  uma possível candidatura seria  em Itabuna, ou em Itajuipe, onde alias foi cogitado seu nome ?
Tenho muitas dificuldades em conceber o sistema político nacional. Por que temos bancada de situação e bancada de oposição a governos ? Não seria mais adequado termos legisladores que avaliassem propostas encaminhadas por homens do executivo ? Ou será que bancadas possuem interesses pessoais e não coletivos ?
Esse sistema até hoje não me atraiu. Fico lisonjeado quando sou indagado sobre a possibilidade de me candidatar a cargos eletivos, mas compreendo que se algum dia isso acontecer, não será por agora. Quero estudar, preciso voltar “de fato” para a Academia, preciso vivenciar outros contextos, produzir conhecimento.
Para ser Prefeito de qualquer cidade hoje, é preciso ter muita base, é preciso conhecer Leis, Decretos, setores da administração pública direta e indireta, é preciso estar bastante antenado e, principalmente, é preciso estar livre, totalmente livre, para tomar as decisões éticas necessárias.
Além disso, em Itabuna, jamais sairia candidato estando prefeiturável o próprio Prefeito que me nomeou ao cargo de Secretário, pessoa que gosto e me relaciono, seria falta de ética da minha parte, embora isso pareça démodé para alguns.
Ser lembrado em Itajuípe, cidade onde me criei, em que vivi os primeiros 27 anos da minha vida, onde moram meus pais, boa parte dos meus amigos, onde defini minha personalidade é algo fantástico! Penso em poder melhorar e, assim, ajudar mais a cidade que também levo no coração, independente da forma que seja!
Quem sabe um dia eu consiga uma “fórmula” e entre na política eletiva.